sábado, 8 de agosto de 2009

ÚLTIMA CARTA

Caríssimo, Esta é a última correspondência entre nós. Gostaria de dizer como te amei. Não era paixão, era amor de verdade. Amei seus pêlos, seus cabelos, seu buraco no queixo e sua barba que quando mal feita me machucava. Amei suas faltas, seu descaso, seus telefonemas improváveis. Amei seu corpo. Amei sua fragilidade e covardia. Suas ironias. Amei seus silêncios, seus desaparecimentos, seu sexo. Amei seu pé de sonho e seu travesseiro que me dava torcicolo. Amei seu cheiro, sua falta de atenção, sua polida educação. Amei a música que dava ritmo aos lençóis. Amei sua infelicidade e seus vários compromissos sem mim. Amei seus amigos que não conheci e sua comida que nunca comi. Amei sua tristeza e conformismo. Amei sua família, irmãs, sobrinho, que nunca vi. Amei sua casa e sua falta de amor. Amei a idéia de te embalar em meus braços e te consolar, como a gente consola uma criança que caiu. Amei o jornal que me levou quando da morte do Sinatra. Amei suas viagens, sem estar nelas. Amei seu entusiasmo pela estrada de terra. Amei você, mesmo quando ficava sozinha nos feriados prolongados. Amei a idéia de ficar ao seu lado. Só mais um pouquinho. Não todos os dias, mas nos dias de colo e afago. Amei tanto que secou. Nunca amei ninguém assim. Nunca mais vou amar alguém assim de novo. É doentio. Foi a viagem mais perigosa da minha vida. Adeus

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