domingo, 9 de agosto de 2009

CALA BOCA

 Cerra seus lábios mulher. Cerra com força para que deles não saiam nem um suspiro. Não saiam palavras em vão. Desperdício de Verbo. Que não saiam elogios nem críticas. Cerra seus lábios mulher, para que não expressem sentimentos, justificativas, razão. Para que não diga nem um sim, nem um não. Palavras de amor estão proibidas, palavras de ódio também. Seja honesta, seja modesta, fique muda. Não diga nada de que possa se arrepender. Não pronuncie palavras para tentar compreender. Não pergunte porque, não pronuncie talvez. Cerra com força seus lábios. Fecha essa matraca fêmea de fofocas, despejo de injúrias. Fecha esses lábios pintados de carmim para que não sussurrem palavras de amor. "....dê ouvidos a muitos, mas a poucos tua voz..."* Cerra, fecha, lacra. Para que não diga nunca, para que não diga sempre, para que não diga parasempre. Fica muda, abre os ouvidos e escuta. Observa com exatidão a vida a sua volta. Escuta com cuidado, com cuidado observa. Mas não diga nada. Nada de seus lábios sairá. Boca. Lábios, luxúria maldita. Cala sua boca mulher e vá escrever. *William Shakespeare - Hamlet

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