quarta-feira, 5 de agosto de 2009

NUM TEMPO DA DELICADEZA

"...Depois de te perder Te encontro com certeza Talvez num tempo da delicadeza..." (Todo Sentimento - Chico Buarque) Pobre de nós. O Chico lançou esta música em 1987. Hoje, no século XXI, não há mais "tempo da delicadeza". O tempo é virtual, World Wide Web. Namoramos por torpedos, acabou os olhos nos olhos, sentada em um bar, sentindo aquele formigamento por um homem que está sentado em uma mesa do outro lado. Terminamos relacionamentos e amizades por e-mails. As palavras deixaram de ter importância, para se tornarem códigos, abreviaturas e winks no MSN. Não quero velas, champagne e rosas. Quero contato humano. Sutilezas. Quero palavras ditas frente a frente. Não quero sexo por telefone. Quero transar com carne, pêlos, pênis, mãos, lábios, cabelos. Um homem em carne e osso. Quero um homem que decida-se. Não quero me casar, tolher a liberdade do outro, caçar seus segredos nem invadir a privacidade de ninguém. Quero a verdade dita, mesmo que seja cruel. Quero as alegrias de um amor correspondido e a fantasia, a saudade de quando estamos separados. Sentir o coração do outro batendo no mesmo ritmo que o meu, quando estivermos abraçados. Quero preliminares longas com maciez de veludo. Quero orgasmos reais com homens reais. Não serei seduzida por um sujeito qualquer, que viu meu perfil na Internet. Não me excito com torpedos galantes. Para onde foi a confiança, a cumplicidade e a honestidade das pessoas por seus amores? O que houve com a hombridade? Será que todos os homens estão se sentindo emasculados para se tornarem metrosexuais? O que foi que fizemos? Quero de volta a realidade, como deve ser. Não quero ir à Obra e "pegar" um bêbado. Quero um homem que se embebede junto a mim, na intimidade. Quero terminar o dia, suada junto ao meu parceiro pelo esforço da satisfação mútua. Abraçados, cansados. Na suavidade do momentum. Num tempo da delicadeza. "Onde não diremos nada Nada aconteceu Apenas seguirei como encantada Ao lado seu..."

Um comentário:

  1. Cassinha,
    temos ideias semelhantes. Também estou testemunhando o mundo depender exclusivamente das máquinas e também estou ficando triste e decepcionado com isso. Já existem até um movimento anti-tecnologia, mas eu acho que chegou tarde demais. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra, acho que precisamos nos olhar mais nos olhos. Parece que as pessoas só têm coragem de se expressar para as máquinas, pois elas são previsíveis... ah, é um assunto que dá pano pra menaga, não?
    Beijos.

    ResponderExcluir