domingo, 28 de junho de 2009

Aula de Anatomia - Rembrandt

Vontade de arrancar seus olhos para que me enxergue. Vontade de arrancar suas mãos para que me toque. Vontade de rasgar seu peito e arrancar seu coração de pedra para que me ame.

sábado, 27 de junho de 2009

ISAAC, O JUDEU

Sempre fui um pouco judia. Após um lançamento do Sempre Um Papo (há uns 15 anos atrás), estava como cicerone de um editor chamado Isaac. Ele morava no Rio. O conheci naquele dia. O evento foi demorado e saímos para jantar. Ele era jovem e agradável. Tipo gentleman, sabe? Fomos a um restaurante, pedimos algo para beber e talvez um carpaccio, não me lembro mais. Fazia muito calor e meu cabelão estava enrolado em um coque bem desalinhado. Bebemos e não pedimos jantar. Só conversando e bebendo. Um sentado defronte ao outro. As pernas por baixo da mesa se esbarrando. Aqui, minha memória fica um pouco nublada. Ficamos de mãos dadas e começou a rolar um clima romântico. Só romântico. Uma sedução meio velada, de sentido meio inocente e meio sacana. Acho que fiquei extremamente excitada, pois o rapaz se levantou para ir ao banheiro, mas não o vi voltar. De repente, senti duas mãos vedando meus olhos e recebi um beijo longo na nuca suada. Gozei ali mesmo, na cadeira dura do La Traviatta. Foi uma coisa tão maluca e repentina que cheguei a ficar desorientada. Ele não percebeu. Ele pagou a conta, saímos de mãos dadas e me convidou para o seu hotel. Eu, como uma "lady", declinei gentilmente o convite, e fomos embora em taxis separados. Nunca mais o vi. Nunca mais o esqueci. Isaac e seu beijo mágico.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Bonsai

Há semanas no mesmo ambiente, correria em salas de uma empresa que entrava no mercado.

Nada pessoal, ninguém em especial, trabalho para manter mente e olhos entretidos por séculos.

Demanda por apoio especializado.

Foi ali.

Reverbera como se fosse hoje aquela fisgada de tantos anos atrás.

Formalmente apresentados e, num instante, os olhos de um e outro se disseram que seria para sempre.

As manhãs, tardes, os turnos seguintes nunca foram tão esperados.

As razões para se envolverem em tarefas comuns se multiplicaram.

Disfarçavam o indisfarçável pedindo pareceres, compartilhando trabalho e errando a entrada de salas para terem o prazer, que fosse, de respirar no mesmo ambiente.

E como acabavam num estalo estes dias que passaram como que em segundos, o boa noite era demorado, com tantas voltas, e com passos de quem não desejava ir embora.

Doces,

irônicos,

delicados,

tinham tudo.

Devassos, eram filme para público adulto.

Um outro anoitecer, mais uma despedida, ele a caminho da garagem.

Ela em sua sala aguardando que amanhã viesse logo.

E não foi que a energia do quarteirão inteiro acabou?

Mal tinha se dado conta da escuridão e ela sentiu os lábios dele invadindo os dela, mãos de paixão segurando seu rosto e a boca no ouvido confessando:

- Voltei correndo pra poder enfim sentir você!

Santo Deus...

...Que beijo divino...

Dias de devaneios, de olhares perdidos, de frases curtas e atrevidas ao se cruzarem, até que se atreveram a fugir juntos depois do boa noite.

Não precisaram trocar uma palavra, simplesmente seguiram.

A partir dali viram, disseram, fizeram o impensável.

A intensidade do que davam e recebiam fazia com que a troca fosse mais que de fluidos e sensações, e os levava a lugares de onde não queriam mais voltar. Cumplicidade, linguagem dos olhares, sexo quente e perigosamente apaixonado eram passos rumo a um precipício que rondavam ávidos. Mas como havia vida antes daquela que passaram a conhecer dormiam com o passado entediante, acordavam buscando o que não tinham e compensavam através de sua carne o que a rotina lhes roubava.

Quando passou a existir dor fizeram acordos insensatos em respeito a destinos sensatos.

Nunca mais se desprenderam da imensidão daquilo que se desdobrou em ternura.

Ele faz coisas doces...

...Surge no meio de uma tarde de dezembro e deixa uma pequena arvorezinha da qual ela nunca soube cuidar e que adoraria ter de volta para lhe fazer companhia.

Volta do litoral com trançados para o pescoço dela.

E se enternece pelos que ela ama.

Marca presença fugidia nas datas em que só a vida que já existia antes deles pode compartilhar, dá um beijo amoroso e a faz se lembrar de que eles dois são sim, para sempre, ainda que divididos pelas escolhas repletas de sensatez.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Cada um com seu cada um.

Ansiosa, sem limites, carente e infantil. Era possível que ela surgisse assim, destemperada.
Em lugar de se inchar num comportamento cruel de quem se vê no controle, ele lhe dá afeto:
liga mais uma vez para dizer boa noite,
lê um trecho de Barthes pela manhã,
recebe com amor os recados de amor,
acalma a insanidade dela com sua doçura. Mal se continham pela distância. Devaneios davam conta de que deixariam marcas um no outro.
Faltava somente encostar pele na pele para ver o efeito.
Sentir o cheiro, o gosto e a força.
Olhar tão fundo nos olhos a ponto de se ver refletido ali.
Era preciso língua, sêmen, suor, mucosas... Ele existe. Ela provou. Deixou de pensar que mãos afoitas em cabelos desmanchados, ou que quase mordidas em pele que se quer penetrar eram apenas cenas de filme. Eles, os dois, existem.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Vicomte de Valmont

É o homem mais delicioso que conheci.
Olhar lascivo diz tudo o que sabe, pretende, pode.
O cheiro é pura devassidão.
(Pernas escondidas sob a mesa...)
É mesmo o homem mais delicioso que conheci
e por quem meu coração, desavisado, quis balançar.
(..."Grande lascivo, espera-te a voluptuosidade do nada.")
Ler seu nome, apenas vê-lo escrito, me faz febril.

De certo modo, um perfil.

Trechos de minha leitura,
onde a pausa desejada é para fazer uso de você,
e ser seu objeto de uso.
Pode ser que essa febre provocada por você, em mim,
me faça enlouquecer.
"... uma boa parte da filosofia soube dizer que o sexo que melhor satisfaz homens e mulheres é aquele que consegue se fazer em um ambiente onde os parceiros sexuais se olham como objetos de uso. Sim - objetos..."
"...Quando percorremos a literatura libertina em filosofia, percebemos isso. Não pelo que os libertinos querem, mas pelo que eles não alcançam..."
"...se somos senhores de nossas pixões e de nossos corpos, a natureza jamais poderá nos fazer lamentar algo..."
"...só o autêntico libertino consegue escapar da dor e do prazer e, então, estar livre de tudo o que natureza está preparando para ele, para depois, lhe tirar..."

domingo, 21 de junho de 2009

O OUTRO

Há muito que não pensava em você. Não sei porque hoje, com a cabeça e o sexo pulsando por outro, você veio a mim. Seu nome é desgosto. Bitter. O outro é doce. Sweet. Lábios que procuram meus seios. Ele é grande e ruivo, como Frederico Barbarossa. Sinto o corpo pesado sobre o meu; a barba roçando meu pescoço. O sexo forte, as mãos grandes, mas macias e sábias. Olhos azuis que encaram os meus. Sinto um gozo que dá vontade de gritar EUTEAMO. Mas não digo nada. Grito, mas não articulo. Os homens não querem ser amados. Assim eu me vingo de nós.