quinta-feira, 19 de novembro de 2009

DESENHISTA

Existe uma contradição em meus sentimentos em relação a ele. Gosto e não gosto de encontrá-lo. Isso é o que acontece quando só o tesão e a curiosidade nos impele, e não existe amor.
Afeto sim, amor não.
Na última vez ele tirou minha roupa me deitou de barriga para baixo e ligou todas as minhas sardas dos ombros formando um mapa astrológico imaginário. Nomes de constelações que não existem. Eu ali, parada, excitada.
Não tem nada a ver com o filme "Livro de Cabeceira". Não há mensagens explícitas nem subliminares. São só desenhos. Acho que ele usa meu corpo para relaxar o seu cotidiano não muito criativo.
Tudo bem.
Eu deixo.
Deixo que faça o que quiser.
Pinta meus mamilos de vermelho, como se fossem duas bocas a serem beijadas, desenha asas de anjo em minhas costas, pinta ramagens floridas em em minha virilha como seu houvessem flores saindo do meu sexo.
Pinta meu rosto e quando estou triste, choro verde ou azul.
Gosto dos desenhos que me fazem parecer uma indiana. Os arabescos me deixam feliz. Pareço uma parede do Taj Mahal, e minhas mãos e pés são pintados como as das noivas indianas. Acho tocante e belo.
Da minha barriga até o púbis, só pichações. Placas de aviso, de trânsito com setas apontadas para minha vagina.
Uns dias entendo, outros não, mas não peço explicações.
Fico lá, feito uma boneca, ou um modelo na aula de desenho. Sinto-me feliz e excitada. Aquela excitação calma que vai virando um furacão.
Quando ele acha que acabou, nos possuímos ferozmente.
As tintas se misturam com o orgasmo e é nessa hora em que fico mais presa a ele.
Quando me banho, vejo aquela água misturada, barrenta, que às vezes destaca uma cor se esvaindo pelo ralo e ele se esvai junto.
Bom, ontem fui uma constelação, outro dia anjo, noutro jardim, meus mamilos bocas que ele beija  e amanhã não sei o que serei.
Enquanto transamos, não sei se ele goza com suas figuras ou comigo, eu sei que gozo com o desenhista.
Gozo e sei que volto outra vez.

Nenhum comentário:

Postar um comentário