quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

CARTA À VIZINHA DO ANDAR DE CIMA


                                                 Foto retirada de: kitespaper.blogspot.com

Cara vizinha,

Há mais de 15 anos moro no apartamento abaixo do seu.
Nesse período, ouvi (não tenho ângulo para vê-la) a moça do prédio ao lado, defronte a sua janela enviuvar e os filhos dela se tornarem adolescentes.
Aguentei as brigas domésticas do apartamento que divide o muro comigo, vi o filho cantar e tocar violão com aquela voz de taquara rachada até se tornar homem, aguentei o papagaio gritando GALO todos os dias.
A antiga dona do seu apartamento, tinha uma boutique em casa e meu interfone não parava de tocar. Quando ela estava animada, treinava dança do ventre com sininhos nos tornozelos nesse quarto que hoje, você dorme. Quando ela se mudou, alugou o apartamento para uma república de pré universitários que fumavam maconha na janela e engraçado, o cheiro, vinha até mim. Eles assistiam os jogos de futebol em uma enorme TV (pay-per-view) e a turma toda ficava no mesmo quarto, ou seja, acima da minha cabeça.
Escutei os primeiros choros da Vitória (aquela bebê de olhos azuis) e antes disso, as festas que haviam no apartamento quando a mãe ainda era solteira.
Como já havíamos conversado antes, não jogo bituca de cigarro pelos corredores do condomínio e nem ao menos, porto um cigarro aceso na área de circulação.
Jogo o meu lixo fora nos horários e dias certos e não encho o saco de ninguém berrando para me abrirem a portaria, pois esqueci minhas chaves.
Mas escuto suas gritarias com sua irmã (?), seus sapatos de salto e suas reuniões noturnas, que diga-se de passagem, são muito mais frequentes que as minhas.
Então, voltando a falar sobre o cigarro, acho extremamente altruísta e louvável que seu genitor saia de casa e vá fumar no portão, em consideração a sua alergia, mas ele é seu pai.
Levando em conta a história de comunidade e seu blábláblá, devo dizer que se não faço muito para melhorar a minha, também não a atrapalho.
Entendo também que, comunidade é o conjunto de pessoas que habitam meu entorno e da minha soleira para dentro é o meu lar.
Não vou atender seu pedido para ficar com as janelas fechadas em qualquer época. Não quero e vamos combinar, é ridículo. Estou na minha casa e fecho as minhas janelas quando necessário aos meus interesses.
Não sou a única fumante nas imediações e mesmo se parasse, não seria a última pessoa a poluir o meio ambiente.
Então para finalizar a missiva, vá encher o saco de outro.

P.S. Você só descobriu que a Amy Winehouse existia agora que ela veio ao Brasil? Se liga minha filha! Desliga o som e vai ler!    


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